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Vida: episódio 2016

O episódio 2016 dessa série chamada vida está acabando. Um episódio daqueles de tirar o sono, fazer chorar e rir, pular de alegria, arrancar suspiros de emoção, fazer bufar de raiva, deixar preso no sofá, incapazes de acreditar no que nossos olhos estavam vendo. 
E os personagens? Ah, os personagens… alguns pareciam vilões e se revelaram heróis, e outros que começaram encantando, terminaram fazendo chorar. Alguns saíram da história de forma imprevisível, outros chegaram no meio do episódio e, de mansinho, foram conquistando seu espaço. Há, também, aqueles que permaneceram firmes e fortes, apesar de todas as reviravoltas. Laços se desfizeram, outros nasceram e outros se confirmaram.
Teve cenas de romance, com açúcar e pimenta. Teve momentos de suspense, daqueles de fazer cruzar os dedos e torcer para que tudo desse certo. Houve, ainda, cenas dramáticas, com direito a escorregar pela parede chorando como se o mundo estivesse acabando. Momentos de tédio, com roteiro meio repetitivo? Teve, sim senhor. Desfechos inesperados, daqueles melhores que a encomenda? Opa, teve também. Finais (novos começos?) felizes? Sim, obrigada Redator! 
As locações também tiverem papeis importantes. Cenários diferentes para ilustrar a busca por respostas e experiências. Idas e vindas em aeroportos, pores-do-sol com vista para o rio, reencontro com as raízes, jantares regados a vinho, conversas cheias de significado, com horizontes sendo revisados e ampliados, mudanças de corpo e de alma. Cenas tranquilas no núcleo familiar, doces e ternas, outras agitadas com os amigos pelo mundo.
O roteiro do episódio 2017 já está no forno. Alguns enredos foram concluídos, mas vários outros permanecem em aberto, com mistérios a desvendar, reencontros para acontecer, personagens novos para chegar, conquistas para comemorar, romances para viver, desafios para vencer, paz para construir. Protagonistas que somos, temos a liberdade e responsabilidade de dar nossa contribuição para que a história seja um sucesso. Pode pegar a pipoca e o espumante, o espetáculo já vai começar…

 Imagem: reprodução Pinterest

Baseado em fatos reais

Um belo dia, numa dessas “coincidências” da vida, você esbarra em alguém. Uma história dessas que a gente lê nos livros. Encontro casual, cada um segue seu rumo, e um dia, um dia daqueles em que você está brigando com Deus porque as coisas não dão certo, a pessoa reaparece. As redes sociais e seu poder de conexão. Gato escaldado que é, você fica com os dois pés atras, mas o destino parece decidido a dar uma mãozinha. Gostos parecidos, histórias parecidas, conversa fácil, sincronicidade te colocando no lugar certo, na hora certa. Ainda com o pé atras, razão dizendo para segurar a onda, mas o beijo…ah, o beijo! A mágica acontece, o vinho fica na taça, o tempo ganha outro ritmo. Aí você pensa, pronto, era isso, vida que segue. Mas a mágica continua, inclusive parece aumentar. A distância física não é problema quando há proximidade de almas. Trilhas sonoras sem fim. Nesta altura, você já esqueceu que tinha sido escaldado e se joga na água fervente. Sabe aquela história de bom demais para ser verdade? Pois é. Até foi verdade, mas durou pouco. Intenso, mas fugaz. Os objetivos mudaram, alguns sentimentos evoluíram, outros minguaram, paralelas destinadas a não se cruzar. No lugar da música, o silencio. O vinho anestesia em vez de inebriar. Cérebro sabe, mas coração besta ainda insiste. Você sente que ainda não está pronto para deixar ir, então continua tentando, sofrendo, desculpando, concedendo e alimentando expectativas e esperanças. Mas, mesmo que ela seja a ultima a morrer, não é imortal. Um dia, você cansa, desiste, desespera…e deixa de esperar. Entende que a situação não vai mudar, quem tem de mudar é você. E você decide ir. Um pouco à francesa, elegante, um pouco covarde, sem adeus, porque o coração poderia colocar tudo (a razão) a perder, e por sentir que não faria mesmo diferença. E vai. De um fôlego só, muitas lágrimas depois, na esperança (ela, de novo), de que o que os olhos não veem, o coração, um dia, vai deixar de sentir. Afinal, tudo acontece por um motivo – o começo, o meio e o fim. 

Uma nova página 

Fui uma adolescente sonhadora, muito sonhadora. Mergulhava nos livros e deles tirava combustível para alimentar meus sonhos. Já não sou adolescente há um tempinho, e quando olho para trás percebo que, nestes anos todos, a vida tem sido muito generosa comigo. Tantas histórias bonitas vividas, muitos sonhos realizados, e algumas coisas que nem ousei sonhar mas que vi se tornarem realidade. Sim, houve sonhos que não realizei, vários deles. Mas, de novo, ao olhar para trás percebo que tudo o que aconteceu, de bom ou de ruim, faz todo sentido. Estou exatamente onde devia estar, como devia estar, com quem devia estar. Perdas e danos, sorrisos e lágrimas, alegria tão grande que fizeram chorar, decepções tão grandes que fizeram duvidar. Se tivesse de escolher uma palavra para definir minha vida, seria mudança. Muitas, de todas as naturezas. Na maior parte das vezes, não foram planejadas, simplesmente aconteceram…mas não por acaso. Eu coloco o pé, Deus coloca o caminho. Mais um passo chegando…bem-vindo seja! 

Sobre a luta das uvas 

Apaixonada por vinhos que sou, aproveitei o feriado para conhecer uma vinícola que fica praticamente no quintal de casa, no pé da serra. No tour guiado, um passeio pelo lugar e explicações sobre todo o processo de produção, desde as vinhas até a hora do vinho ir para a garrafa.

Durante o passeio no (lindo!) vinhedo, o enólogo comentou sobre a necessidade de um solo pobre para a produção de vinhos de qualidade. Segundo ele, as uvas precisam lutar pela sobrevivência (como os gladiadores da Roma antiga), e esse sofrimento é o que traz as características necessárias para produção de vinho: acidez, corpo etc. Solos ricos produzem uvas mais vistosas, mas vinhos medíocres.

Fiquei com isso na cabeça, e não pude deixar de pensar, mais uma vez, que pessoas e vinhos têm mais semelhanças do que sonha nossa vã filosofia. 

Há dias nos quais ficamos abalados com as idas e vindas da vida, e pensamos que bem que Deus (universo, energia criadora, como queira chamar) podia “dar uma aliviada” e acelerar a chegada dos dias de glória, porque dos dias de luta já estamos cansados. 

Mas é justamente nessa luta (aprendizados, chegadas e partidas, dores e alegrias, lágrimas e sorrisos) que é forjada nossa alma, e a qualidade do nosso vinho. São os momentos difíceis que nos fazem buscar lá no fundo a força que nem sabíamos que tínhamos, e tocar em frente. Raízes que buscam os nutrientes para crescer, resistir às intempéries e viver para realizar o potencial que trazemos em nós. Sem toda essa bagagem, talvez acabássemos sendo apenas um rascunho do que poderíamos, um desperdício sem fim.

Além dessa luta toda, é preciso se entregar ao fluxo da vida e entender que tudo tem um momento de plantar e colher, e que não é possível atropelar a natureza e suas estações. A uva tem um momento exato para ser colhida (nem antes, nem depois) para garantir que o vinho seja perfeito. Assim é na nossa vida: as coisas só vão acontecer no momento certo, quando estivermos prontos para cada experiência. Tudo tem uma razão de ser. 

Pessoas que vivem todos os desafios sem fechar o coração nem perder essa estranha mania de ter fé na vida são fascinantes como aqueles vinhos raros, fruto das uvas guerreiras, com cores intensas, aromas que perfumam o mundo, sabores que ficam na boca e na alma. 

Esperar a hora da colheita (e lutar por isso) é uma prova de paciência, não há dúvida, mas pelo (pouco) que consegui entender da vida até agora, vale (muito) a pena.  😉

Sobre vinhos e pessoas

Tintos, rosés, brancos. Da Itália, do Chile, da França. Mais leves ou mais encorpados. Fundo amadeirado, aroma de frutas vermelhas. Jovens ou maduros. Assim são os vinhos, esta bebida deliciosa que deixa a vida mais gostosa.

Morenas, loiras, ruivas. Do Brasil, do mundo, do sul ou do sudeste. Suaves ou intensas. Discretas ou exuberantes. Jovens ou maduras. Assim são as pessoas, estes seres apaixonantes que deixam a vida mais cheia de cor.

Tantas nuances, tantas sutilezas. Tantos sabores, tantos aromas. Harmonizações perfeitas, nas quais um elemento ressalta e valoriza o sabor do outro, sem competição, apenas complementaridade. A arte de combinar os elementos certos, tão simples e tão complexa.

Mesmos ingredientes, diferentes safras, diferentes sensações e experiência. 

Tempos diferentes para maturar. Momentos diferentes para transmitir a mensagem de forma clara e segura. A forma certa de servir, temperatura e pressão. Paciência para se esperar o momento certo de abrir e degustar. 

Diferentes corpos, diferentes texturas. Sensações que permanecem e marcam, outras que desaparecem sem deixar vestígios. 

Sabores tão intensos que assustam no começo, até que se dê tempo ao tempo para que a química e a física façam sua mágica.

Assim são os vinhos, assim são as pessoas.

Um brinde às pessoas e aos vinhos memoráveis que a vida coloca no nosso caminho. Ainda estou para encontrar uma harmonização mais saborosa do que esta.

Então, é Natal…

Cá estamos nós de novo, preparando a ceia e pensando: cadê o ano que estava aqui? Para quem gosta de lista de resoluções, este é o momento de revisar os objetivos de 2015 e A) riscar itens com felicidade e orgulho ou B) ir ali cortar os pulsos e voltar já. 
O clima é festivo, família reunida, comida gostosa, brindes sem fim, presentes. Tem espaço para saudade, para orações, para rituais, para agito e para tranquilidade.

Sempre gostei desta época do ano, com suas mensagens de vida e esperança, além dos panetones, espumantes e outros quetais. Ah, sim, e ainda tem os presentes. Em tempos de crise (já acabou, 2015?), talvez tenhamos menos pacotes (ou menores), mas no fim das contas o que mais importa nesta história é mesmo o carinho envolvido no gesto.

E, pensando bem, mesmo que não tenhamos pacotes para abrir, certamente recebemos vários presentes durante este ano que está acabando. Algumas coisas podem ter saído bem diferentes do planejado — presente de grego também é presente, né? Brincadeiras à parte, se esses presentes não foram do tipo “era bem isso o que eu queria”, talvez tenham sido do tipo “era bem isso o que eu precisava”.  

No fim das contas, se olharmos com atenção, vamos perceber que a lista de bênçãos é certamente maior do que a dos perrengues. Saúde (pra dar e vender, ou com algumas oportunidades de melhoria, rs). Amigos daqueles com os quais a gente pode contar até debaixo d’agua, almas irmãs. Família para dar colo e aquele amor incondicional dos que nos conhecem no nosso melhor e pior. Um trabalho que nos permite ganhar nosso dinheiro e realizar aqueles sonhos que têm preço, mas muitas vezes, têm valor incalculável. Viagens por esse mundo lindo. Mesa repleta de comida e risadas. Pessoas que chegaram, pessoas que partiram, pessoas que voltaram — todas deixando/trazendo algo para nossas vidas. Nossos animais de estimação que são mais gente do que muita gente. Surpresas daquelas melhores do que a encomenda. Algumas decepções para nos lembrar que nem sempre as coisas são como queremos. Música, filmes, livros, esta arte que nos salva. Fé que não costuma falhar. Conexões virtuais, encontros reais. Descobertas, aprendizados. Sonhos e planos. Dias frios, cobertor quente. Dias quentes, vinho gelado. Frio na barriga e calor no coração. Um milhão de pequenos grandes motivos de gratidão.

Então é isso. Então é Natal. Que seja uma festa de luz, dentro e fora de nós. Que nunca nos falte alimento para o corpo e para a alma. Que saibamos perdoar, nos perdoar, e renascer. 

Feliz Natal!

Gratidão

Uma segunda-feira daquelas dignas da (má) fama. Mundo em guerra, corrupção afogando o país, natureza sangrando e morrendo, muita incerteza, pessoas à beira de um ataque de nervos, prêmio da Mega Sena que não sai pra me deixar ryca, semanas de chuva sem trégua. Parece que não faltam motivos para deixar o humor abaixo da linha da pobreza. Confesso (minha culpa, minha máxima culpa) que nestes dias têm sido difícil não sucumbir ao mimimi.

Como isso não me pertence, resolvi exorcizar esses perrengues com outra lista: a dos motivos para agradecer. Já entendi que gratidão é um sentimento poderoso, e que o universo devolve com ainda mais motivos para agradecer. E, como tudo na vida, se a gente exercita, vai criando músculo. 

Então, Deus, Vida, Universo, muito obrigada pelo café puro e doce que me ajuda a ser gente de manhã. Pelo banho quente e cheiroso que me ajuda a relaxar de noite. Pelo sol que um dia (tomara logo, rs) vai voltar a brilhar. Pelo barulho gostoso de chuva no telhado que embala o sono. Pela família. Pelos amigos. Pelos afagos que a gente recebe de onde/quem menos se espera. Pelo vinho e pelo chocolate (sim, juntinhos assim para potencializar a felicidade). Pelas memórias felizes, pelos planos inspiradores. Pelos ciclos que terminam e pelos que começam. Pela esperança. Pelos livros que ajudam a viajar, pela música que alegra o coração. Por toda a ajuda, direta e indireta, que sempre chega. Pelo cafuné do afilhado. Pelo olhar amoroso dos cachorros. Por toda a gentileza que supera a grosseria. Pelo espaço liberado para as coisas boas que estão pra chegar. Pela coragem de continuar mesmo com o maior medo do mundo. Pelos aprendizados. Pela fé que não costuma falhar. Por hoje, por ontem e por amanhã.

Obrigada. Gracias. Thanks. Grazie. Merci. 🙏🏻🙏🏻🙏🏻


Imagem: Pinterest

Piloto Automático 

Este post vai começar de um jeito diferente, com algumas perguntas (bem simples, nem precisa dissertar sobre o tema, rs).

1) Sobre o almoço de ontem, é correto afirmar que:

a) Você comeu qualquer coisa (bem rapidinho) e voltou logo ao trabalho.

b) Você saboreou a refeição com calma, prestando atenção aos sabores, aromes e textura da comida.

c) Almoço, que almoço?

2) Todos os dias, ao ir para o trabalho (ou aula, ou seja lá o que for), você:

a) Faz tudo sempre igual, ao estilo Chico Buarque.

b) Presta atenção ao caminho, notando as sutilezas da paisagem.

c) Quando vê, já chegou ao destino, como num piscar de olhos.

3) Quando sai com seus amigos, você:

a) Dá a eles total atenção e curte o momento, ao vivo e em cores.

b) Verifica o e-mail do trabalho de tempos em tempos. Afinal, nunca se sabe quando o chefe vai precisar de você.

c) Olha o e-mail do trabalho, faz check in no Facebook, posta foto da comida Instagram and vídeo no Snapchat, fala com o/a crush no whats e, nos intervalos, até conversa um pouco com os amigos.

E então? Já tinha parado para refletir sobre essas questões? Como se sentiu com relação às suas respostas? Está satisfeito ou um tanto, digamos, #chateado e sem vontade de cantar uma linda canção? Well, bem-vindo ao clube. Ou, como dizem por aí, #tamojunto.

Já tem um tempo que venho refletindo sobre essa pressa em viver e sobre essa anestesia que parece nos devorar. Como se tivéssemos ligado nosso piloto automático, sem de fato estar vivendo nossas próprias vidas. Quantas vezes estamos “conversando” com alguém sem ouvir o que a pessoa está nos dizendo? Quantas vezes o nosso “interlocutor” nos faz uma pergunta e ficamos com aquela cara de tacho, sem saber o que responder, simplesmente porque não estávamos escutando? Quantas vezes chegamos ao final do dia com aquela sensação de “nossa, o tempo passou voando”, sem lembrar direito o que fizemos durante aquelas horas todas. Quantas vezes pegamos um petisco qualquer para comer enquanto assistimos a um filme e, de repente, percebemos que o pacote está vazio…cadê a comida que estava aqui, que eu comi e nem vi?

Vivemos em um mundo que reforça, e até recompensa, essa pressa toda e esse jeito multitasking de ser. Quem pode ser dar ao luxo de fazer apenas uma coisa de cada vez? Afinal, todo mundo faz isso, né? Fazer, faz. Mas…faz bem? E fazer isso…faz bem? Um número cada vez maior de pessoas está questionando esse estilo de vida e buscando mais equilíbrio, menos ansiedade, mais paz. Eu estou, talvez você esteja, ou alguém muito perto de você pode estar. Exercício físico, terapia, alimentação saudável, apoio espiritual, remédios, hobbies…há várias respostas para a mesma pergunta e, no meio de tudo isso, um tema que ganha cada vez mais força nesta discussão: mindfulness.

A tradução literal do termo é “atenção plena” ou “consciência plena” e trata-se do estado mental alcançado por meio do foco e atenção ao momento presente, de forma consciente, e pelo acolhimento e aceitação dos sentimentos, pensamentos e sensações. Essa prática tem origem em técnicas ancestrais de meditação e passou a ser usada para fins psicoterapêuticos pelo menos desde o século VIII. Nos últimos anos, o tema ganhou destaque por meio do trabalho de Jon Kabat-Zinn, que fundou a Stress Reduction Clinic at the University of Massachusetts Medical School no final dos anos 70.

Parece simples, né? Estar presente no momento atual, e consciente de tudo o que está acontecendo com você naquele momento. Sabe de nada, inocente. Primeiro, eu vivo “viajando” no tempo, seja dando pulinhos no passado para me recriminar (Por que cargas d’água eu fiz isso mesmo, senhoooor?) ou avançando até o futuro para me preocupar (O que será que vai acontecer na reunião da semana que vem???). Racionalmente, sei que não faz sentido nenhum – afinal, o que passou não pode ser alterado, e o futuro…bem, pode ser que nem exista. Mesmo assim, para mim e para outros tantos amiguinhos de planeta, permanecer 100% no presente é um grande desafio. E dá-lhe ansiedade.
Aí vem a segunda parte da equação, que é estar consciente de tudo o que está acontecendo no momento presente, em termos de pensamentos e sentimentos. Você está bem linda/lindo vivendo o aqui e agora quando recebe um e-mail que te deixa “p da vida”. Então, de forma consciente, é preciso entender os motivos por trás da sua chateação. Quais são os sentimentos envolvidos (medo, raiva, frustração) e por que razões você está se sentindo assim? Há mesmo razão para se sentir assim? Quem mandou o e-mail é mesmo um bastardo inglório tentando arruinar seu dia ou apenas fazendo o trabalho do melhor jeito possível para ele/ela naquele momento? É mesmo um ataque pessoal ou apenas uma abordagem um pouco mais ríspida causada por uma situação especifica?

Viu só como não é fácil? Para mim, ariana esquentadinha, essa presença consciente exige um enorme esforço. Mas, quando consigo (sim, tenho tentado!!!), isso reduz a ansiedade. Os problemas não desaparecem, mas consigo lidar com eles com menos sofrimento. Obvio, tem horas em que o pavio curto fala mais alto e a tal da mindfulness sai de fininho (antes que sobre para ela também, rs).
Uma das “bases” da mindfulness é a meditação, uma vez que ajuda a mente a criar os “músculos” necessários para esta mudança de padrão: foco, clareza, concentração. O famoso “respira, inspira, não pira” nunca fez tanto sentido. Tenho vários amigos praticando meditação e todos têm historias muito positivas para contar. Eu sempre relutei porque essa historia de ficar “só” parada, respirando e limpando a mente de distrações parecia algo totalmente impossível para alguém tão agitado quanto eu. Recentemente, uma dessas amigas (que trouxe mindfulness para sua vida depois de um curso nos EUA) me indicou um aplicativo (sim, minha gente, para o celular!) que tem meditações guiadas bem boas para iniciantes. A primeira que fiz foi um fiasco espetacular – eram só 8 minutos, mas parei no meio porque lembrei de algo que precisava fazer. Podem rir, está liberado. Teimosinha que sou (persistente, talvez?), tentei de novo (coisa mais curta, 3 ou 5 minutos), e está melhorando. Não, ainda não transcendi nem fui transportada para outros níveis de consciência, mas prestar atenção na respiração, de fato, desacelera. Ah, descobri que tudo bem se a gente pensar durante meditação (achava que não podia de jeito nenhum, affff), desde que a gente traga o foco de volta à respiração quando perceber que isso acontece. Aos poucos, acho que vou pegar o jeito. Não dava para chegar ao nível “Buda“ depois de alguns minutos de prática, certo? Tudo bem não ser perfeito…

Eaqui tenho gancho para dois outros elementos importantes relacionados com mindfulness: compaixão (compassion) e gentileza (kindness) – para com os outros e para consigo.

A parte do para com os outros até é fácil de entender (não necessariamente de colocar em prática, rs), mas quando se trata de nós mesmos, geralmente o chicote estala sem dó nem piedade. Para mim, sempre foi difícil. A minha barra é sempre mais alta comigo do que com os outros, sou sempre a crítica mais feroz de mim mesma. Então, toca a exercitar para mudar, né? Primeiro, seja gentil com você. Reconheça seus sentimentos e pensamentos (todos mesmo) como eles são, sem julgar ou criticar. Entenda que esses sentimentos e pensamentos não definem você, mas apenas o momento pelo qual você está passando. 

Você não é uma idiota distraída sem salvação, você apenas esqueceu de pegar a conta que precisa pagar. Você não é uma besta incompetente, apenas cometeu um erro em um relatório. Tenha compaixão por você, ser humano passível de erros, e trabalhe para melhorar o que pode ser melhorado (isso é o que diferencia compaixão de pena ou empatia: o desejo de fazer algo para ajudar/mudar a situação).

Se isso soar muito zen/esotérico para você, tudo bem. Eu também achava que isso era loucura e que não tinha aplicação prática, mas me dei a chance de experimentar. Também estou fazendo exercício, quero melhorar a alimentação (esse será o grau máster de evolução, porque continuo comendo besteiras como se não houvesse amanhã, afffff), sigo firme na terapia, experimentei florais e shiatsu. Depois dos 40, algumas fichas caíram, e resolvi tomar vergonha na cara (antes tarde do que nunca). Não quero mais ser escrava da minha ansiedade, quero mais qualidade de vida, quero explodir de alegria e não de raiva. Fácil não é, mas tenho certeza de que é possível. No final das contas, talvez loucura seja continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes, né?

E sim. A trilha do post é uma seleção de mantras. Mais um dos itens do projeto “por uma Zeila melhor”. 😉🙏🏻

Image: Elephant Meditation

Pollyanna tem dor de cabeça 

Na adolescência, li e gostei da história de Polllyanna, a menina que jogava o “jogo do contente”, buscando ver algo de positivo mesmo nas situações mais complicadas da vida.
Sempre tive horror a mimimi, então procuro viver a vida olhando o copo meio cheio, com otimismo e tal. Ocorre que nem eu, nem a Pollyanna, nem mesmo Jesus ou Buda estão/foram felizes o tempo todo. 
Todos temos aqueles dias difíceis, nos quais o que mais queríamos na vida era ficar embaixo das cobertas, escondidos de tudo e de todos. Temos medo e dúvidas. Temos dor de cabeça e cólica. Temos raiva e vontade de dar um belo chute na canela daquele ser chato que insiste em atazanar nossa vida. Temos mau humor mastodôntico, daqueles em que gostaríamos de mandar a pessoa para aquele lugar em vez de dar bom-dia.
Temos dias nos quais o cabelo não se ajeita e as olheiras fazem inveja a qualquer panda. Fazemos besteira e depois ficamos remoendo as pataquadas (por que, senhor???!!). Temos vontade de dizer “não, nem a pau Juvenal, nem &@$%#}€, mas acabamos dizendo sim”. Temos vontade de dizer “nossa amiga, estou mal, me dá um abraço?” e acabamos dizendo “comigo está tudo ótimo!”.
Temos vontade de jogar tudo para o alto, mas vamos adiando porque sabemos que vamos ter de catar tudo depois. Temos necessidade de carinho, mas não demonstramos porque, né, as pessoas podem descobrir que somos frágeis. 
Essa cultura da felicidade, independência e instantaneidade nos faz ter vergonha de mostrar que não somos super heróis. Mulher Maravilha também tem TPM e tem de ralar na academia para manter o corpão, amiguinhos. No final, somos todos apenas humanos, demasiadamente humanos. 
Nosso Facebook/Instagram/Snapchat/sabedeusmaisoque refletem apenas uma parte de nossas vidas, a mais iluminada, e tudo bem. Não estou dizendo que devemos começar a postar fotos com o rímel borrado e a hashtag #partiuchoraratédormir ou #malditoinfernoastral. O problema é que isso pode nos causar uma falsa sensação de que a vida dos outros é perfeita, e que só a nossa grama tem ervas daninhas aqui e ali. 
Da minha parte, triplamente ariana que sou, abrir a guarda e assumir que 1) não sou perfeita 2) gosto de carinho apesar de morrer negando 3) ainda tenho mais perguntas do que respostas não é fácil, mas é libertador. Sim, sou otimista, acho que tudo vai dar certo e que a vida é linda, mas também tenho meus momentos “droga de vida, que saco, me deixa quieta se não eu mordo”. Dias de chuva e sol, de silêncio e de cantar alto, dias de luta e dias de glória. Na dúvida, melhor não perguntar: vai logo abraçando.
Que a gente se permita viver por inteiro, com todas as nossas facetas, com a dor e a delícia de sermos quem somos. Que reconheçamos o direito do outro de ser inteiro. E que não percamos a coragem de continuar tocando em frente. Afinal, dor de cabeça passa, e ninguém disse que precisa ser perfeito para ser feliz.

Imagem: reprodução Pinterest

Paris: a de Hemingway, a de Woody Allen e a minha

365 páginas em branco

Meia Noite em Paris é meu filme favorito do Woody Allen. Foi aquela seqüência inicial que fez ficar obcecada por Paris e ir para lá pela primeira vez, para passar míseros dois dias e meio. No filme, o personagem principal, falando por Woody, acha a cidade particularmente bela em dias de chuva. No filme, pode até ser, mas na vida real a chuva atrapalha um pouco a vida dos turistas que querem explorar a cidade como se deve: batendo perna. Passar uma semana por lá, sem sol, com frio e chuva, me fez querer socar o Woody por essa história de a cidade ser mais linda em dias de chuva. 😊

Outro apaixonado pela cidade luz, e que viveu por lá nos anos 20, também tem sua “versão” de Paris. Mister Hemingway descreve os anos que por lá viveu de um jeito saboroso no livro Paris é uma Festa. Comprei…

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